Em março deste ano contamos por aqui um pouco sobre como o município de Camaquã-RS havia implantado, em 2009, o Método Montessori em sua rede pública de Educação Infantil. Agora, a professora Cristiane Lopes, que esteve presente no Congresso Montessori, fala um pouco sobre a oportunidade de estar lado a lado com os principais nomes do método no Brasil e sobre como anda a educação lá na cidade gaúcha. Confira!

´´Sou a Professora Cristiane Lopes. Trabalho na Educação Infantil da Rede de Ensino Pública Municipal da Cidade de Camaquã/RS. Vivi, junto das minhas colegas de magistério, a implantação da Metodologia Montessoriana na rede municipal, que iniciou de forma pioneira em 2009 e se solidificou no decorrer dos anos subsequentes.

Além de professora da Educação Infantil também sou professora na Universidade, na Faculdade de Pedagogia, onde, inevitavelmente, preparo futuras professoras que atuarão em escolas públicas com a Metodologia Montessoriana (hoje me orgulho em dizer que muitas ex-acadêmicas são minhas colegas de profissão na rede de ensino), razão pela qual também trago no meu da a dia da faculdade os Pressupostos da Metodologia Montessori.

Fiz Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Pelotas/RS (pesquisando os efeitos da Metodologia Montessoriana no processo de Alfabetização Formal das crianças). Trabalho com a formação continuada de professores já há algum tempo, e há um ano criei uma página nas redes sociais intitulada @aprendermontessori. Esta página nasceu na necessidade de compartilhar experiências montessorianas em escolas públicas, e é um espaço dedicado a pais, educadores das zonas urbana e rural, equipes diretivas, acadêmicos e público em geral. Nesse espaço virtual compartilhamos saberes, sugestões de atividades, textos para fundamentação teórica, vivências pedagógicas e divulgamos oportunidades de estudos acerca da Metodologia Montessori e da Infância. Como um espaço democrático de aprendizagens, o @aprendermontessori vem crescendo a cada dia porque é alimentado, na maioria das vezes, por experiências reais de aprendizagens entre professores e crianças advindas de realidades bastante distintas, bem como de pais e filhos: compartilhamos conquistas, sugestões para adaptações de espaços escolares ou domiciliares a fim de que se tornem ambientes preparados para a independência, aprendizagem e autonomia da criança. Compartilhamos, também, subsídios teóricos e práticos para a construção de materiais impregnados de intencionalidade pedagógica, com baixo custo e que primem pelos pressupostos da Pedagogia Montessoriana.

Por que faço este apanhado da minha história para falar da ideia de que MONTESSORI É PARA TODOS? Por que quando iniciamos esta caminhada na rede pública éramos poucos. Sentíamos-nos sozinhos. Tínhamos dúvidas. Tínhamos desafios gigantescos pela frente: precisávamos estudar e aprender para convencermos a nós mesmos de que Montessori seria possível para as classes populares. Precisávamos estudar, aprender e encantar para convencer as famílias e a toda comunidade educativa de que Montessori era uma oportunidade riquíssima de emancipar seus filhos, e de que, baseados nesta metodologia, favoreceríamos uma educação voltada para a paz, para o bem e para a vida!

Na Universidade Pública, lembro das dificuldades de encontrar uma linha de pesquisa (e um orientador) que investisse interesse e subsídios em uma investigação científica (ainda mais em se tratando de uma dissertação de Mestrado) que tivesse como suporte teórico a Pedagogia Montessoriana. Nos eventos acadêmicos, Brasil afora, muito lutamos pela divulgação e pela publicação dos nossos trabalhos, a fim de levar Montessori de forma cada vez mais presente para a academia.

E cá estamos nós, em 2023: entre os dias 21 a 23 de Setembro estivemos mais uma vez reunidos em um Congresso Montessoriano, desta vez na cidade de São Paulo. Eu, particularmente, já havia participado de outras edições do evento. Apresentei pesquisa científica neste renomado congresso pela segunda vez e tive, junto dos demais pesquisadores presentes, a oportunidade de apresentar os efeitos promissores desta Metodologia na Educação das Crianças.

Posso afirmar com imensa alegria que algo totalmente diferente, se comparado às edições anteriores, aconteceu neste congresso: desta vez, a escola pública se fez presente em maior número e com maior representatividade de cidades e de escolas. Éramos muitos! Não estávamos sozinhos! Não somos mais sozinhos! Somos muitos e mais do que nunca temos a certeza de que trilhamos este percurso de mãos dadas!

Interessante chamar a atenção para o fato de que no decorrer de todo o congresso não houve distinção entre rede pública e privada: todos nós participamos reunidos por um bem maior: a criança! Ouvimos, contextualizamos, cantamos, vibramos, dialogamos, nos emocionamos! Nas socializações de pesquisas, tivemos relatos que consideraram todas as crianças, sem distinção! Nas palestras, falamos do desenvolvimento infantil, da infância, de aprendizagens, de vivências! Nosso foco foi A CRIANÇA como um todo, independente de ela estar na rede pública ou na rede privada.

E para culminar com tamanha beleza este ciclo de estudos, a programação do evento deste ano nos agraciou com um marco histórico: tivemos uma roda de conversa sobre Montessori na Rede Pública! Quanto orgulho para todos nós, e especialmente para os educadores aqui de Camaquã (pioneira na oferta da Metodologia Montessori na rede Pública) ver nosso trabalho sendo divulgado com tanta maestria pela Assessoria Pedagógica da Rede Pública Municipal de Ensino! Quanto orgulho ver que temos neste país uma rede que se solidificou na Educação da Infância para todas as crianças de zero a cinco anos, e que traz a Pedagogia Montessoriana como carro chefe da Proposta Pedagógica da Educação Municipal. Quanto orgulho ver que temos tantos outros municípios onde Montessori já é uma realidade na Rede Pública, e que cada vez mais temos escolas que buscam alicerçar esta proposta a passos largos, porque reconhecem a força do legado de Maria Montessori para a Educação na Infância.

Foi um Congresso lindo! Foi emocionante! Foi desafiador! E para todos nós, educadores das escolas públicas, foi muito motivador! Pela primeira vez neste país, subimos ao palco principal e fomos aplaudidos de pé em um congresso desta magnitude! Ficamos com a voz embargada e extremamente emocionados pelas palavras da nossa querida Edimara de Lima (presidente da OMB – Organização Montessori do Brasil) que reforçou a ideia de que a maioria das crianças brasileiras estão nas escolas públicas, e que se tivermos uma chance de mudar este país, será dando mais forças às redes públicas de ensino.

Gratidão a este reconhecimento da OMB! Gratidão por defender esta linda e nobre ideia de que SIM: MONTESSORI É PARA TODAS AS CRIANÇAS!“