Arquiteta (2013), mestre (2016) e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo (2021-2024), Audrey Migliani, começou a dedicar-se ao estudo de espaços domésticos para crianças e em 2018 fundou o @ambientepreparado, um escritório de arquitetura especializado em ambientes infantis que são seguros, inclusivos e estimulantes aumentando a autonomia, o autoconhecimento e a autoestima das crianças em suas próprias casas. Confira!

Foto de Kelly Queiroz

´´Conheci o Método Montessori, quando projetava uma escola com “pedagogias alternativas” para meu TFG (Trabalho Final de Graduação), em 2013. Lembro-me nitidamente de pensar: “olha só, de tantos métodos interessantes, acredito que o de Maria Montessori seja o mais apropriado para aplicar em casa, quando (e se) eu for mãe. Quatro anos se passaram até que eu engravidei e, pesquisando sobre o quarto da minha filha, encontrei mais informações sobre esse pilar (do ambiente preparado) tão importante para a filosofia montessori que tantas famílias ao redor do mundo aplicam em suas casas. Foi aí que eu me apaixonei completamente.

Quando minha filha tinha seis meses (em 2018), criei o @ambientepreparado, com o objetivo de salvar referências para mim mesma, para que eu pudesse “fazer em casa” e adaptando o meu espaço para cada nova fase de minha bebê. Na época eu disponibilizei um ebook gratuitamente: “Guia para um verdadeiro quarto montessoriano“, que ainda pode ser baixado clicando aqui.

 Desde esse momento eu já entendi uma frase que costumo falar muito, tanto com as famílias que eu atendo em consultorias e mentorias, quanto para as famílias com as quais eu dialogo diariamente pelas redes sociais:  “ambiente preparado nunca está pronto”. No começo, as famílias tendem a se assustarem um pouco com essa afirmação porque pensam no trabalho “eterno” de [re]preparação de seus ambientes, no entanto, busco sempre lembrá-las de que o fato do espaço precisar de [re]adequações é muito positivo, pois significa que a criança já aproveitou todas as oportunidades que aquele ambiente preparado proporcionou a ela, e que agora ela está pronta para atingir novas conquistas de seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional.

 Nesta fase, meus estudos estavam mais maduros e eu concluí que preparar “apenas” o quarto da criança não era suficiente. Na verdade, eu sempre entendi que as crianças que tem quartos preparados para elas já podem ser consideradas sortudas, afinal, numa sociedade tão adultista, uma criança ter um quarto seguro e inclusivo que permita que ela aja por si mesma, já é uma baita vitória. Contudo, fui percebendo que quanto mais autonomia e pertencimento a criança tivesse em todo (ou quase todo) espaço de sua casa, mais positivo era para a rotina dela, e da família.
Especialmente durante os primeiros dois anos da pandemia da COVID-19 (2020/2021) quando muitos pais tiveram que equilibrar o trabalho em home-office com o estudo remoto de seus filhos.

Foto de Kelly Queiroz

Àquelas famílias que entenderam que a casa deveria ser um ambiente educativo e propor aprendizados diverso às crianças, levaram o desafio com um pouco mais de leveza do que àquelas que nunca haviam pensado nisso. Digo isso por experiência própria, pois foi o ano em que eu mais trabalhei no sentido de auxiliar as famílias a realizarem pequenas adaptações (investindo o mínimo possível) para se adequarem e terem uma vida cotidiana menos desafiadora em meio a tantas incertezas que estávamos vivendo.

 Em paralelo a esses desafios da pandemia, eu me debrucei nos estudos: fiz diversos cursos pela ABEM, pelo Lar Montessori (inclusive o de Guia Assistente no Método Montessori para crianças de 3 a 6 anos) e também pelo Montessori Canela.


Senti, cada vez mais a necessidade de falar sobre a casa da criança, como um todo, e as solicitações de projeto, que antes eram focadas no espaço do quarto foram dando espaço à requerimentos de auxílio em espaços de brincar, espaços de estudo e até mesmo cantinhos relativamente mais “simples” como “da água” (um espaço organizado para que a criança beba sua água com segurança e autonomia) e “do passeio” (área próxima à entrada da residência com banquinho, opções de calçados e ganchos para mochilas e jaquetas) começaram a ganhar mais importância aos olhos dos adultos cuidadores dessas crianças.

Atualmente, estou em meados do meu curso de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo com tese que busca entender estratégias que ajudem a transformar a casa da criança em uma espaço de aprendizagem, acolhimento e segurança. Além disso, ofereço serviços de consultoria e mentoria que são capazes de “empoderar” as famílias a observarem suas crianças em seus espaços permitindo que eles mesmos possam “projetar” as [re]preparações necessárias, abrindo os olhos para a importância da preparação de ambientes em casa, e enaltecendo a revolução que estamos construindo criando crianças mais criativas, seguras e empoderadas.

Foto de Kelly Queiroz

Meu trabalho muitas vezes consiste em fazer com que as famílias entendam as potencialidades do espaço que elas têm para que enxerguem tudo o que a criança pode aprender nele, sem nunca esquecer de olhar para a criança, tentando sempre enaltecer a tríade montessoriana: criança, adulto observador e ambiente preparado enfatizando a necessidade de observação constante de nossas crianças.


Sou muito grata ao método revolucionário que Maria Montessori desenvolveu no início do século XX e que vem fazendo, cada vez mais sentido para nossa sociedade. Sinto que trabalhar com espaços para as infâncias fez com que eu entendesse minha real missão profissional: unir minha paixão pela arquitetura e realizar meu sonho de criança, que era ser professora de educação infantil.“