Tatiane Cordeiro de Lima Domingos mora em Petrópolis, onde dirige o Colégio Céu Azul Montessori. Aos 41 anos, casada e mãe de um menino de 5 anos, Tatiane foi apresentada ao Método Montessori por duas crianças, que eram suas vizinhas em Niterói. Uma linda história que está sendo contada desde 2004 e que nestes dois últimos anos teve um capítulo à parte por conta da pandemia. Confira!

‘’Conheci o Método Montessori através de duas crianças que eram minhas vizinhas em Niterói. Eu fazia minha graduação e elas, de 5 e 7 anos, eram alunas da Escola Smirna e me contavam sobre suas atividades. Eu já era professora de uma escola tradicional e vivia incomodada com aquele sistema. Mas eu achava uma loucura o que elas me contavam, sobre escolher o que fazer na escola.

Até que as crianças me convidaram para a festa de encerramento da escola. E como eu tinha muito carinho por elas aceitei o convite e fui para prestigiá-las. Chegando lá fiquei muito encantada com tudo o que eu vi. A organização do espaço, das salas, da disposição do material na estante. Era tudo totalmente novo para mim!

Na festa fiquei muito impressionada com a segurança das crianças durante a apresentação e com a participação das famílias no evento. Aquilo foi um marco na minha vida! Fiquei super emocionada e entendi que era aquilo que eu queria para a minha vida. Então comecei a minha busca por cursos de formação no Método Montessori e o primeiro contato foi com a Talita de Almeida, da ABEM.

Fiz os cursos e segui trabalhando em uma escola tradicional, embora muito incomodada com aquele sistema. Eu não acreditava mais naquilo que eu fazia! Até que em 2013 fui convidada para coordenar o Colégio Céu Azul aqui em Petrópolis. Aceitei a proposta, mas com uma condição: trabalhar com o desafio de transformá-la em uma escola montessoriana. A então proprietária tinha dois sobrinhos que eram alunos da Smirna e claramente percebia as diferenças no comportamento. E ela topou o desafio.

O primeiro passo foi ligar para a Talita e convidá-la para fazer parte desta transformação. Ela aceitou e assim a Sônia Jorás veio a Petrópolis passar uma temporada com a gente. Assim fomos nos transformando.

No seguinte, 2014, a antiga proprietária se aposentou e decidiu vender a escola. Assim em assumi a direção da escola e até hoje estamos aqui, atendendo de agrupada 1 a agrupada 5, ou seja, até o Fundamental II.

Em 2017 convidei para juntar-se a mim uma amiga que já era da Educação há algum tempo, Mariaurea Albuquerque. Ela chegou para ser minha sócia e hoje, além disso, é minha grande parceira de jornada.

Acredito que Método Montessori tem um papel fundamental na sociedade. É uma pedagogia completa que nos faz olharmos com muita atenção para o ser humano e para seu desenvolvimento cognitivo e social. Olhamos com atenção e muita fé na transformação para um mundo melhor. Isso faz toda a diferença para o nosso trabalho e dá a ele um sentido muito maior e mais amplo para a educação e para a formação do homem.

Montessori transformou a minha vida e transforma a vida de qualquer pessoa que se aproxima e se apaixona por ela. Muda tudo quando entendemos que precisamos da transformação interna do adulto preparado. Muda nosso olhar pela criança, pela sociedade, o nosso senso crítico, nossa autoavaliação… Passamos a assumir durante todo o tempo nossas responsabilidades e os desafios de um agente transformador. Foi exatamente este o impacto de Montessori na minha vida. Começou em mim uma transformação como pessoa, em casa, como mãe, como ser humano, com amigos, com a família… É uma transformação muito intensa que atinge todos que estão ao nosso fedor. Afeta marido, filho… Afetou meus pais, que hoje nos olham de uma maneira muito mais respeitosa. Isso é magnífico e não há como não contagiar todos ao redor.

A pandemia trouxe muitos desafios e o primeiro deles era como fazer Montessori à distância, sem ter a criança por perto para observá-la e senti-la. Então, decidimos reunir nossa equipe da Céu Azul e tentar adaptar tudo isso. Para a Educação Infantil produzimos kits com materiais concretos, que enviávamos toda semana para as famílias. Passamos a ensiná-las a trabalhar com o material e a observar a criança. Promovemos algumas oficinas para os pais sobre como e o que eles deveriam observar nas crianças. Sobre como trazer este processo da autonomia para dentro de casa sem maiores interferências. Foi um trabalho que ganhou forma e fez as famílias entenderem o papel da escola e sua importância na vida da criança e na educação infantil. Assim conseguimos manter todas as turmas durante a pandemia.

As crianças do Ensino Fundamental já passaram por este processo de aquisição de autonomia. Elas estão com a gente há algum tempo e já não precisavam estar presencialmente com o professor para estudar. Então fazíamos o planejamento semanal e nos encontrávamos com eles em pequenos grupos ou individualmente por 30, 40 minutos apenas para tirar dúvidas e saber como estava o processo de desenvolvimento deles. Quando voltamos ao presencial, precisamos mais uma vez nos readaptarmos ao sistema híbrido com horário reduzido. Assim não foi preciso dividir a atenção da professora entre a tela e as crianças que estavam no sistema presencial. Conseguimos com sucesso atender aos dois grupos separadamente.

Agora já estamos com 98% dos alunos frequentando a escola, seguindo os protocolos de segurança. E assim não precisamos encerrar nossas atividades e foi muito gratificante saber que conseguimos chegar até aqui, em pleno funcionamento, com a parceria das famílias. Elas foram magníficas e nos apoiaram em todo momento. Essa relação com as famílias foi um diferencial enorme. Um dado interessante é que a busca por nossa escola aumentou muito, por que muitas famílias entenderam que era preciso pensar a educação de seus filhos de uma outra forma. Como todos os desafios da pandemia, o saldo foi muito positivo.

Aliás, acredito que a pandemia fez com os adeptos da metodologia passaram a acreditar ainda mais em sua importância no processo de autonomia da criança, de entender que a criança se desenvolve por ela mesma. Temos crianças sendo alfabetizadas normalmente mesmo estando em casa. E mesmo com o rodízio as coisas fluíram naturalmente. Tudo isso nos fortaleceu em relação a acreditar no potencial humano.

Por tudo isso sou profundamente grata por viver Montessori e ter o privilégio de sair de casa todos os dias e ir para um espaço onde me encanto diariamente, onde reina o respeito entre todos e uma hierarquia linear. É lindo ver a relação das crianças com os adultos, ver as turmas agrupadas… É maravilhoso ver a inclusão como um processo natural. É realmente um privilégio e um motivo de gratidão diária na minha vida. Agradeço ao legado que Montessori deixou e tento honrá-lo da melhor maneira possível. Parafraseando Maria Montessori, tudo o que dou passa pelo meu coração. Esta é uma frase que vivo todos os dias da minha vida.’’

 

Paulo Prudente, reportagem e texto.