O presente texto visa pormenorizar o uso de alfabetários ao longo da alfabetização na perspectiva montessoriana. O post Explosão da Escrita traz as primeiras nuances do uso desses materiais, mas há relevância no trabalho elaborado com cada um dos alfabetários, para que se compreendam suas finalidades.

O que é importante saber é que os padrões de escrita mudam de cultura para cultura e a “fonte” de base pode variar sem que estejam em detrimento ao desenvolvimento. No Brasil é comum que os alfabetários se apresentem em letra cursiva, o que advém da observação da tendência infantil de produzir garatujas com movimentos contínuos e circulares. No entanto, isso não é uma regra, visto que há formações internacionais certificadas pela AMI e AMS, por exemplo, que sugerem a escrita em letra imprensa e seus alfabetários seguem este padrão.

 

1º Alfabetário ou Alfabetário sensorial

Descrição: Letras minúsculas (se seguirem o padrão cursivo ou de imprensa) vazadas e coloridas de acordo com seu agrupamento apenas na parte frontal. Dependendo da associação ou organização de filiação da instituição de ensino as cores podem ser:

Vogais Consoantes
Vermelho Azul Anil
Azul Anil Vermelho
Rosa Claro Azul
Azul Rosa Claro

No entanto o livro “A Descoberta da Criança: Pedagogia Científica”, de Montessori, em tradução para o português, ela menciona o uso do primeiro padrão de cores citado na tabela acima. O que nos faz refletir se essa foi mesmo a ideia de Montessori ou sofreu influências em sua tradução para nossa língua.

O 1º Alfabetário foi originalmente entalhado em madeira e pintado à mão. Hoje em dia a fabricação já acontece de maneira mais tecnológica para sua durabilidade e qualidade. Há pessoas que utilizam o método de Montessori com poucas crianças, então optam por fabricar de maneira caseira, com materiais alternativos. Como são poucas crianças a manipular, ele dura um bom tempo, mas para escolas que necessitam de maior durabilidade ou pessoas que necessitem dessa característica, a opção pelo alfabetário em madeira é mais indicada.

Observações: Algumas formações indicam que as letras sejam exatamente do mesmo tamanho e fonte que são apresentadas nas letras lixa. Existem conjuntos que contém acentos e sinais gráficos coloridos com a mesma cor em que sejam possíveis de serem utilizados (ex.: acentos em que se usam só nas vogais, serão coloridos na mesma cor que elas, fato que depende do acordo ortográfico da língua em que a criança está sendo alfabetizada).

Justificativa: Mediante um trabalho intenso de análise de fonemas, este material é inserindo aos poucos, geralmente com crianças que estão no fim da primeira infância e ainda compreendem questões por meio dos sentidos. Por esse motivo, o 1º Alfabetário é vazado, no intuito de trazer possibilidades de exploração tátil antes mesmo da escrita. Com ele a criança escreve sem utilizar papel e lápis, apenas servindo-se das peças e se familiarizando com o formato das letras.

O colorido se dá apenas na parte frontal de cada peça no intuito de proporcionar um controle de erro, evitando espelhamento das letras.

Utilizado principalmente para a construção de grupos de palavras.

 

 

2º Alfabetário

Descrição: Semelhantes ao Alfabetário anterior em matéria prima e fonte, mas a diferença está na cor, há predominância do preto, e no tamanho, apresenta-se ligeiramente menor.

Justificativa: Utiliza-se essa cor para neutralizar o alfabeto contido na caixa, pois se avança um degrau em vias de abstração na linguagem. Quando se observa que a criança já compreende os fonemas existentes em sua língua e já não necessita do suporte das cores para relacionar com a força do respectivo som (informação esta não tão comum, presente apenas em algumas correntes montessorianas), então as cores tornam-se desnecessárias. Assim, se oferta a possibilidade do 2º Alfabetário, uma vez que a criança já busca com facilidade a letra que necessita.

Utilizado em sua grande maioria para a construção de grupos de palavras.

 

 

Alfabetário dos Dígrafos

Descrição: Semelhantes ao Alfabetário anterior em matéria prima, tamanho e fonte, mas a diferença está na cor e no modo em que se apresentam, pois existem letras unidas.

Pode ser considerado como um complemento ou “anexo” ao 2º Alfabetário.

Para explicitação do que são dígrafos e como são compreendidos no método montessoriano, consulte nosso post especial a respeito.

Justificativa: Visa auxiliar a compreensão infantil de que duas letras grafadas juntas podem emitir um mesmo som, por esse motivo estão unidas nesse material. As cores variam de acordo com as associações e organizações de filiação, na maioria delas apresenta-se em verde, mas podem ser encontradas em vermelho e cinza.

 

 

3º Alfabetário

Descrição: Pequenos retângulos brancos com as letras do alfabeto impressas individualmente em uma cor só (as mais comuns são: preto, vermelho, azul ou verde), sinais de pontuação, alguns retângulos em branco e acentos e sinais gráficos impressos na mesma cor, mas em retângulo de material transparente. Todos esses retângulos (independente do que vem impresso ou não nos mesmos) possuem as mesmas dimensões. Sua matéria prima pode ser madeira, plástico, ou materiais alternativos que atendam à proposta.

As letras, geralmente, de um lado são minúsculas e no verso maiúsculas.

Justificativa: Os acentos ou sinais gráficos que se apresentam em material transparente têm o intuito de serem sobrepostos à letra que deles necessitem. Como esse alfabetário se destina à prática de formação de frases, os retângulos em branco têm a intencionalidade de marcar o espaçamento entre as palavras. Por esse motivo também se justifica a presença de sinais de pontuação.

É comum encontrar pelo menos duas caixas desse alfabetário (cada uma de uma cor diferente) nas classes montessorianas com a finalidade do estudo de prefixos, sufixos, radicais, entre outros. O que basicamente seria escolher uma cor de base para a escrita e outra cor que representará o estudo em questão.

Nesse material encontram-se expressas possibilidades para a gramática.

 

 

Referência das imagens: Loja da Smirna