* por Ana Paula Rommel, Centro Educacional Montessori Jardim da Joaninha

Dada a profundidade do Método Montessori, posso dizer que tenho pouco tempo de trabalho dentro do método. Pois Montessori não é somente um método ou sistema de ensino, é uma PedagogiaCientífica. Pedagogia essa composta de uma abordagem didática única, e uma metodologia repleta de materiais bem específicos e estruturados, que respeitam os períodos sensíveis de desenvolvimento cognitivo para cada faixa etária, desenvolvidos dentro de áreas de conhecimento também muito específicas.

O trabalho acadêmico acontece com uso do acervo montessoriano, composto de ferramentas montessorianas nas áreas de vida prática, linguagem, sensorial, matemática e educação cósmica, que por vezes são erroneamente confundidas com brinquedos de madeira, porém, estas ferramentas obedecem a critérios específicos de comprimento, espessura, largura, peso e cor. Tendo ainda, como objetivo ativar e desenvolver áreas específicas do cérebro humano, com seus efeitos reverberando a curto, médio e longo prazo.

Maria Montessori nasceu na Itália em 1870, fico imaginando ela em uma sociedade como a da época, fazendo suas considerações sobre a forma de educar uma criança, e seu posicionamento em busca dos direitos da mulher, como cursar medicina por exemplo, e fazer parte da academia científica. Pensemos na sociedade de 100 anos atrás: uma mulher, médica, e que tivesse um filho “mãe solteira”… Alguém grandemente fora dos padrões!

Com muito estudo, pesquisa e trabalho, ela foi ganhando prestígio por intermédio das suas publicações e também resultados com o método que propusera, a “Casa dei bambini” foi certamente um marco cultural para a Europa e para o mundo até hoje.

Mesmo atualmente o método montessoriano causa curiosidade e surpresa. Imaginem então naquele tempo, com uma cultura escolar bancária predominante, Maria Montessori foi realmente atemporal, pra mim ela é um daqueles gênios da humanidade que nascem de tempos em tempos, suas descobertas ultrapassaram o cronos, tanto que ainda agora estamos muito longe de atingir toda a profundidade que o método que ela propos.

Um fato é que, a parte metodológica da pedagogia Montessoriana somente pode ser executada em uma escola montessoriana, porém, em casa existe a possibilidade de inteirar-se sobre alguns preceitos básicos da filosofia do método. A internet ajuda as famílias neste sentido, já no caso dos professores que desejam tornar-se guias Montessori, o caminho é mais longo, e exigente de estudo, pesquisa e muita leitura e releitura das obras de Maria Montessori.

Felizmente hoje escuta-se falar com certa frequência de pedagogia positiva, que de certa forma está mais no gosto das pessoas, nas redes reflete-se muito sobre educar positivamente as crianças, um formato aonde pais ou cuidadores se propõe a dar uma atenção diferenciada aos filhos, e a sua vivência… Com a globalização e validação social dos efeitos positivos, muitos adultos tem se preparado para a tarefa de criar e educar um novo humano, muitos estudos são disponibilizados e compatilhados de forma clara na rede.

E após algum tempo de estudo, é possível observar que a neurociência comprova Montessori, pois, os questionamentos que esta ciência levanta sugerindo algumas soluções, Maria Montessori com menos recurso tecnológico, já havia descoberto e respondido. E, um fato que percebo é o de que, mesmo com os recursos atuais, ainda não consegue-se fazer 5% do que essa mulher singular propôs e observou. Com sinceridade fico me perguntando, como ela foi tão genial? Como pode sua pedagogia parecer ainda estar 500 anos à frente da nossa sociedade atual?

Há quem pense que as pessoas que estudam o método montessori há muitos anos precisem se atualizar, referências que em minha instituição denominamos “a velha guarda”. Não, não, pelo contrário nós é que precisamos nos atualizar com eles enquanto há tempo, por que quem é um montessoriano de essência, que vive a filosofia, e viveu de forma prática o método por uma vida, certamente está anos à nossa frente. Pois apresentam um comportamento, sábio e profundo a respeito de cada detalhe da vida humana, de qualquer sociedade e em qualquer tempo.

Eu ainda sou jovem, tenho dois filhos e busco seguir os pilares que já absorvi, mas como outro ser humano vou me preparando no caminho. Porém, já entendi que não há como ser um adulto preparado sem começar por nós mesmos, buscando nos conhecer melhor, buscando equilíbrio, e aprendendo a nos autoavaliar sem julgamento. Talvez fazendo a primeira coisa que Montessori pede que façamos. Algo teoricamente muito simples: observar!

Sim, temos de aprender a observar, observar na essência, primeiramente a nós mesmos, sem julgamento, sem justificativa, ou autoflagelação. Observar, e buscar o auto ajuste, a nossa regulação, para alinhar a nossa própria rota interna e consequentemente externa também.

Aprender e dominar essa prática leva tempo, demanda viver um processo que envolve cura, ressignificação, e busca por respostas a nossos mais diversos questionamentos. Talvez, se fossemos esperar ser um adulto totalmente preparado para educar uma criança, ouso dizer que, quem sabe não existiriam pais ou professores, pois é um caminho possível, encantador, porém cheio de desafios de vivência e convivência, e de gestão de emoções e tempo. Principalmente a administração do tempo, controlar o tempo têm se tornado ainda mais difícil, pelo uso inadequado da tecnologia e internet, que diga-se de passagem, pode ser nossa amiga, ou nossa perdição.

Especialmente nos últimos 15 anos perde-se muito tempo com rede social. Ouvi até falar em uma geração que não consegue respirar sem olhar a tela do celular. E isso é um tanto preocupante!

Até quando será que conseguiremos formar adultos preparados para a vida? Adultos esses que não tem dificuldade para viver em sociedade alguma, pois o adulto preparado consegue se equilibrar e se ajustar ao ambiente e as situações, tornado as coisas sempre que possível um pouco melhor.

O método montessoriano propõe buscamos regular a criança, mas para isso precisamos também estar regulados. Uma criança que consegue se autorregular, como é a proposta de Montessori, ter bem firme suas bases internas, espirituais, cognitivas, e é capaz de regular-se em qualquer meio. Montessori fala em períodos sensíveis para acesso a determinadas áreas de aprendizagem. Por incrível que pareça Maria Montessori vivia há 150 anos atrás e já via que a humanidade ia evoluir tanto em diversas áreas, mas principalmente na da tecnologia, que precisaria ter o seu centro muito bem estabelecido para não se perder em si mesma, nas suas próprias invenções. O que ela propõe, se conseguirmos implantar na primeira infância, teríamos jovens com muito mais regulação e sabendo usar a própria tecnologia de maneira muito mais sábia.

Eu tenho uma criança de cinco anos que tem certo acesso ao aparelho celular, mas são os adultos que ajustam quando e como, não assistimos no celular, por exemplo, mas na TV. Priorizamos momentos como café, almoço e jantar para estarmos juntos, sem nenhuma tela, para nenhum fim, o adulto precisa dar o exemplo e priorizar mesmo, celular na caixinha de celular. Se observarmos as crianças, vários pais de classe média alta conseguem ter um tempo legal em casa ou ter uma jornada específica de trabalho, diferentemente do tempo de Maria Montessori, em que os pais trabalhavam 15 horas por dia. É uma jornada de oito horas, mas há uma distração com outras coisas, principalmente demandas com o Smartphone. Então é comum observar , crianças que crescem mais carentes de tempo de qualidade com pai e mãe, do que do tempo propriamente dito, tonar-se um adulto preparado envolve entender esses preceitos.

Em relação ao adulto preparada na escola Montessoriana, esse tambêm term seus desafios específicos. Tendo na atualidade principalmente que lidar com os desafios das questões humanas das famílias também. Quando o adulto está mais próximo de estar preparado da forma adequada isso também não é visto como um desafio, pois temos nossas questões internas para lidar, logo os pais e mães de família também têm. Aquelas coisas que nos abalam, causam feridas… Mas quando estamos em uma comunidade legal, quando estamos buscando ser adultos preparados, isso deixa de ser um desafio e passa a ser algo bom, como uma viagem ou uma aventura, pois tem um propósito: Ser o melhor que podemos ser, para guiar esse novo humano em sua magnifica jornada!

Assim, essa relação entre o adulto e os pais passa a ser de troca e de ajuda, por vezes pode haver algum conflito, mas também haverá diálogo e perdão… vamos vivendo juntos, chorando juntos e sorrindo também, mas principalmente nos ajudando e apoiando, escola e famílias. Tonando a convivência mais pacífica, o que é o nosso objetivo principal no Método Montessoriano, promover a paz, viver a paz, a promover sempre que possível. Passamos então a de fato viver uma construção, uma construção que vai além das paredes da escola, e que de fato vai fazer a diferença na vida das pessoas, e no futuro da nossa sociedade. Acreditar que é possível é o primeiro passo, estudar e buscar conhecimento teórico o segundo, e o terceiro e mais importante talvez seja, juntar toda a coragem que houver, para mudar, mudar e fazer algodiferente de tudo, não novo porque já existe a mais de 100 anos, mas ousado, por realmente deseja não só falar em equilíbrio e paz, mas vivê-las com intensidade todos os dias.