A pedagoga Débora Maia Gama, 44 anos, começou sua trajetória de professora com um estágio em uma escola montessoriana. Desde então… Confira!
´´Minha paixão pela pedagogia é inata. Desde a infância já brincava de lecionar, porém sempre me incomodava reproduzir o que vivenciava na escola. Nas minhas brincadeiras, a “escolinha” era diferente. Não sabia, mas já havia um quê montessoriano em mim, mesmo sem sequer sonhar que poderia existir escola tão acolhedora. Ao longo de toda a minha trajetória acadêmica, por todas as instituições por onde passei, me inquietava o estilo fordista e quantitativo; era angustiante ter de decorar conteúdos e esquecê-los após as provas. Não via sentido ser avaliada por um conhecimento superficial, perder noites elaborando formas de memorizar o que deveria estar assimilando e ainda correr o risco de ser punida por avaliações frequentemente injustas. Eu sonhava com uma escola onde o prazer de aprender fosse o foco, onde o aprendizado fluísse naturalmente, sem que um sacrifício o antecedesse.
Formei-me em pedagogia e, na faculdade, conheci Maria Montessori ao estudar os progressistas. Infelizmente, ela não está no currículo brasileiro e não houve aprofundamento. Neste mesmo período, minha filha era um bebê e eu buscava conduzir a maternidade de uma forma em que a minha criança se construísse sozinha, que ela se desenvolvesse na proatividade em vez da passividade, valorizava o seu empenho, sua autonomia, celebrava suas conquistas sem exigir mais do que seu desenvolvimento natural. Em essência, ela dava o tom do nosso cotidiano, cultivando seu protagonismo. Isso demandava autocontrole, muita leitura pedagógica, observação e reflexão de minha parte, um grande desafio para uma mãe de primeira viagem que discordava do modelo educacional em que havia crescido. Era um pesadelo imaginar que em breve teria de matricular a minha menina em uma escola na qual sabia que tudo o que tínhamos construído em casa se perderia na rigidez do ensino convencional.
Nessa busca, imersa nas literaturas, eis que Montessori se revela por completo e dá sentido a tudo aquilo que eu teorizava. Tive a sensação de ter ganhado voz, e o coração da menina que brincava de fazer uma “escolinha diferente” bateu acelerado. Mal podia crer que havia alguém iluminado o bastante para fundamentar cientificamente tudo que eu sonhara para a educação. Desde então, tornei-me ávida estudante de Montessori. Consegui estagiar na Meimei Escola por indicação de uma amiga querida e, de lá, nunca mais saí. Fiz cursos para aprofundar meu conhecimento e me tornar a professora preparada que a metodologia preza. Concluí graduação e pós-graduação divulgando tudo que pesquisava sobre o método, compartilhava com todos as experiências fascinantes que vivenciava enquanto estagiava vendo o método na prática, fiz meus trabalhos de conclusão sempre vinculados à metodologia e, de maneira surpreendente, encantei muitos professores que ainda não mensuravam os benefícios da pedagogia montessoriana. Hoje, leciono em Montessori e dou espaço para a minha criança interior a curar, todos os dias, os anseios da infância. Imagine a minha gratidão por Sônia, minha diretora, a quem eu ouço, confio e admiro por tudo que me oportuniza e ensina.
Montessori é sim um método científico, mas também é uma filosofia de vida. Na escola, se têm acesso à aplicação do método, com os profissionais e ambientes preparados, materiais pensados para facilitar o aprendizado e tudo mais; mas em casa, pode-se “montessoriar” ao adotar um olhar carinhoso e respeitoso pela criança/adolescente, fomentando a investigação, incentivando a autonomia e observando com paciência para atuar assertivamente nos planos de desenvolvimento de cada fase da construção do indivíduo.
Em minha vida, Montessori agraciou duas crianças de uma só vez: a minha filha, que hoje é uma adolescente segura e bem orientada quanto à sua participação no mundo; e a minha criança interior, que não teve a mesma sorte, mas é resgatada todos os dias quando pratico montessori com meus alunos!“
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