Lívia Romeiro trabalhou muitos anos em Macaé, em uma escola montessoriana inclusive, e atualmente mora e trabalha em Campos dos Goytacazes, ambos municípios no norte fluminense. Hoje trabalha com atendimento neuropediátrico, em que adota o Método Montessori. Confira!
´´Minha primeira graduação foi em fisioterapia há 23 anos. Na época segui para o mestrado em neurociências na mesma universidade, UFRJ. Neurociências com foco em neuroplasticidade, memória e aprendizagem. Atuei por 20 anos na educação técnica, superior e corporativa, e atendendo clinicamente em projetos de saúde da mulher e da criança.
Com a maternidade, me interessei pela educação básica e decidi me recolocar profissionalmente para esse público, focando meus atendimentos na neuropediatria. Então, fiz a graduação em pedagogia e as especializações em psicopedagogia, psicomotricidade e educação especial. Nesse período, conheci o método Montessori e tive a oportunidade de trabalhar em uma escola montessoriana em Macaé. Foi muito interessante essa experiência, pois participei do projeto desde a sua implementação. Inclusive, a escola foi grande parte montada pelos materiais da Smirna. Então, tive a oportunidade de conhecer sua qualidade, não me restando dúvidas quando decidi adquirir meus próprios materiais.
Por questões pessoais segui no projeto da escola somente por alguns meses. Mas, foi o suficiente para me encantar com os materiais e aplicar o método na prática. E perceber o quanto aquilo fazia sentido na minha atuação clínica, que é permeada pelo treino psicomotor e de funções executivas.
Aplico o método Montessori nos atendimentos clínicos, pois estão de acordo com o que a neurociência esclarece sobre os processos de aprendizagem, seja ela psicomotora ou cognitiva. Através dos materiais montessorianos consigo atuar de forma lúdica e funcional, que é o ideal na abordagem neuropediátrica.
Apesar de não atuar exclusivamente através do método Montessori, ele faz parte da minha formação e técnica profissional. Acredito que a maioria das pessoas acha que o método só se aplica na área educacional. Mas, enxergo também como método terapêutico, a partir da minha experiência como fisioterapeuta, psicomotricista, pedagoga e psicopedagoga, principalmente na primeira infância.
Atualmente, estou atendendo principalmente bebês, seja para fins terapêuticos, nos casos dos prematuros ou com algum transtorno do neurodesenvolvimento. Também realizo follow-up de desenvolvimento em bebês típicos e orientação parental.
Desde o início da gestação eu já tinha ouvido falar do método Montessori. Porém, estudar, de fato, sobre Maria Montessori e o método mudou a relação com a minha filha, na época com 7 anos. Fiz as formações do Lar Montessori, com Gabriel Salomão, uma autoridade no assunto. Li vários livros, artigos e tive algumas práticas e discussões profundas, em especial com a Mariana Freitas, a quem agradeço muito a oportunidade da experiência em sua escola.
Enxergo o método Montessori como uma filosofia de vida, de ajuda à vida, que tento aplicar em todas as minhas versões, seja a de mãe, professora, terapeuta ou de simplesmente um adulto que está se relacionando com uma criança. Pensar na importância de um adulto e um ambiente preparados para a criança se expressar na sua máxima potência se tornou parte de mim.
Eu sempre pratiquei uma educação respeitosa. Mas, me aprofundando nos ensinamentos da Maria Montessori, evolui muito nesse olhar sobre o poder da criança e na percepção do quanto ainda a desrespeitamos em atitudes sutis do cotidiano.
Todos deveriam ter a oportunidade de conhecer mais sobre o método Montessori. Na prática, apesar de forma inconsciente, vemos muitas crianças sendo violentadas psicologicamente por sua própria família, pela sociedade em geral, e sendo assediadas pedagogicamente na escola, simplesmente por não serem observadas, ouvidas e respeitadas. Esse modelo de educação tradicional, que é autoritária e conteudista, precisa acabar. E não só na escola, em tudo que se refere a vida dessa criança precisa evoluir nesse aspecto da observação, do respeito, do amor, do incentivo da autonomia e da liberdade. Por isso, estendi o uso do método na minha prática como profissional de saúde.
Como falei inicialmente, a atuação seja educativa ou terapêutica, para ser eficiente, precisa que a criança esteja motivada, precisa fazer sentido para ela, ser lúdica e funcional, proporcionar liberdade e autonomia, ser respeitosa e amorosa. Precisa ser com foco no treino psicomotor, e não de movimentos simplesmente biomecânicos sem sentido pela percepção infantil. Não aplicar somente o conteúdo acadêmico, quando pensamos na escola, e sim incluir o treino de funções executivas, que são a atenção, memória de trabalho, raciocínio lógico e estratégico, planejamento, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, tomada de decisão e metacognição, principalmente. Minha evolução profissional, nesse aspecto, teve muita contribuição do método Montessori e das minhas pós-graduações em psicomotricidade e psicopedagogia e formação em neurociências, temas intrinsicamente relacionados.
Sou muito feliz por proporcionar à minha filha, meus pacientes e todas as crianças que convivo esse olhar mais observador e uma interação mais respeitosa, como idealizado por Maria Montessori. Precisamos aprender a observar, conhecer, dar liberdade e autonomia para essa criança expressar suas potencialidades com concentração plena, sem interrupções desnecessárias. Se ela não está prejudicando outro ser vivo, nem o ambiente, nem a si próprio, precisamos controlar nossa ansiedade e deixá-la seguir em frente sozinha, ela é poderosa, é capaz de aprender com seus próprios erros, princípio da autoeducação proposto por Maria Montessori.“
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