O carioca Yuri Vasconcellos tem 46 anos, mas vive em Cabo Frio, Região dos Lagos-RJ, desde os dois anos. Diz-se um cabofriense de infância, de adolescência e de coração. Entre mares e dunas, cresceu e estudou. Fez Belas Artes, Artes Plásticas, Teatro… Conheceu o Método Montessori, fez licenciatura em Artes Visuais e hoje é professor concursado em Iguaba Grande, também na Região dos Lagos. Confira!
´Sempre trabalhei com educação não formal, mas sempre tive o desejo muito grande de dar aulas em escola, então, precisei da licenciatura em artes. Isso tem uns cinco ou seis anos apenas, por que durante toda a vida fui artista plástico, artista visual, músico. Pesquiso várias linguagens, mas as artes visuais são as que eu mais desenvolvo profissionalmente. E vivo delas!
Sou formado em um curso técnico de interpretação teatral e artes cênicas. Fiz também vários cursos profissionalizantes de circo, palhaçaria. Sou palhaço também! Estudei história da arte… tudo o que eu quis pesquisar fui caindo dentro. Até hoje! Nunca paro de pesquisar e estudar. A formação técnica em teatro me dá muitas ferramentas para a sala de aula e me ajuda muito na educação formal.
Hoje sou professor concursado no município de Iguaba Grande, onde dou aula no Fundamental II da Escola Narciso Macedo. Nos últimos três anos dei aula na Escola Maria Flor, em Cabo Frio, e foi assim que iniciei meu contato com Montessori. Tive pouquíssima abordagem da pedagogia montessoriana na licenciatura, muito menos no bacharelado. Então me surpreendeu muito quando tive contato.
Luciana Daflon, diretora da escola, foi a primeira pessoa que conversou comigo sobre o assunto. Meu agradecimento a ela, por que ela me recebeu para fazer minha entrevista de emprego e compreendeu que mesmo com toda a experiência e aptidão para ser um professor de artes, eu estava ávido a compreender melhor a pedagogia Montessori e tudo o que ela envolve. Então pedi a ela uma coisa diferente, que foi começar como professor auxiliar, por que eu precisava entender a dinâmica da sala de aula, os valores e a filosofia montessoriana.
Uma das coisas que mais me atraiu foi o respeito à criança. Tenho um projeto, o ´´Feito para brincar!“, junto com a arte educadora e produtora cultural Ana Luisa Barbosa. Nele, valorizamos as brincadeiras tradicionais, o livre brincar, os jogos musicais, a ludicidade no ensino e na educação, tanto formal quanto não formal, nos espaços educativos. Formamos professores, educadores em relação à arte na educação, mostrando sua importância e sua amplitude.
Maria Montessori dá valor à criança como um indivíduo pleno. Dá a liberdade e a autonomia que a criança precisa ter para buscar o seu caminho. Isso dialogou e muito com o que penso de arte e educação. Me chamou muito a atenção e me apaixono quanto mais leio e pesquisei sobre a pedagogia montessoriana. Até hoje!
Acabei de entregar meu TCC da pós-graduação em Educação Montessori, através da ABEM, FACSA e da Lar Montessori, tendo como mestre a Talita de Almeida, uma pessoa super generosa, muito sábia e muito humilde, que realmente encanta a gente. Encanta todas as gerações que vieram depois dela. Através dela eu falo de todos os contemporâneos dela.
O universo desta pedagogia ultrapassa a questão técnica. Vai na filosofia, na educação cósmica, educação para a paz, valorização da criança e do indivíduo pleno que ela é. Então um carinho especial à Luciana Daflon e à Talita de Almeida.
Hoje eu vivo a educação tradicional em uma escola pública, numa zona rural do Rio de Janeiro, em que os recursos são limitados e há um desconhecimento completo da pedagogia Montessori. Então, os valores e as questões que levanto na escola são desconhecidos pela ampla maioria do corpo docente, da direção e da secretaria de educação. Tem sido um desafio muito grande levar estas questões para escola, mas eu estou levando.
Mas existe a sala de aula, e naquele encontro você pode promover estes valores do interesse individual de cada aluno, dando a cada um deles a sua importância e o seu valor. Dando espaço para a escuta, para expressão individual e emocional eles. É essa questão que levo para a sala de aula. É difícil, mas traz muita energia, por que a garotada recebe muito bem quando você a escuta e a valoriza. Talvez sejam as crianças que mais precisam e eu me sinto em uma missão profissional, não só vocacional.
Por que professor e professora é um ofício. Não há nenhum tipo de mistério ou algo que provoque nele algum sacrifício, além da questão profissional. É importante falar por que temos que ter a valorização profissional do educador, não aquela questão do sacrifício de que vale tudo pela profissão.
Um dos meus maiores desafios de agora é a real aplicação desse universo das artes e da cultura, como eu chamo o componente curricular de arte, na educação Montessori. O tema da minha monografia foi ´Artes e Cultura: do sensível ao simbólico`. Nela, pensei nestas questões, na necessidade da expressão. Do desenho e do grafismo como primeira expressão da criança antes da escrita, por que é uma expressão da linguagem.
O mundo que a gente vive traz o desafio da individualidade, da competividade, da tensão, da expectativa por resultados imediatos. As artes e culturas são o eixo onde todos os outros componentes montessorianos giram no entorno. Maria Montessori sempre foi uma pessoa do mundo, diversa e culturalmente muito livre. O desafio de levar esta liberdade da criança para o mundo. A cultura da paz e de entender que participamos de um coletivo.
Pra terminar é bom lembrar que todos aqueles grandes conjuntos de material Montessori, seja em qualquer linguagem, ele traz um componente estético, artístico e cultural muito grande. E isso sempre me encantou! Aquelas estantes, as salas sempre com uma flor, o ambiente colorido, mais ao mesmo tempo equilibrado, com cada cor tem o seu lugar estudado. A inteligência de Maria Montessori na composição e na criação destes materiais me cativou muito.“
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