A escola Bambu Montessori só começará a funcionar de fato em 2022, mas na prática, há três anos, quando a mãe e jornalista Mariana Ignatios começou a estudar o Método Montessori, o projeto tornou-se um grande campo de debates e partilha de ideias e experiências.

Durante a pandemia o projeto ganhou lives, rodas de conversas, grupos de estudos dos livros de Maria Montessori. Um farto conhecimento que certamente será colocado em prática quando a escola Bambu Montessori abrir suas portas na cidade de São Carlos, a 230 quilômetros da capital paulista. A casa que vai abrigar a escola fica praticamente dentro de um bosque onde predomina o verde da natureza. Confira!

“A vontade de criar uma escola Montessori surgiu quando fomos morar nos EUA, em setembro de 2019, eu, meu marido e meus três filhos. Hoje estão com 4, 6 e 8 anos. Quando nos preparávamos para mudar de país, procuramos uma escola Montessori para os meninos. Depois de uma longa busca, conseguimos vagas na Northwest Montessori School, em Seattle, no Estado de Washington.”

“Durante a pandemia meu marido falou que havia surgido uma proposta de trabalho em uma empresa brasileira e que se ele aceitasse teríamos que voltar ao Brasil. Naquele momento bate uma tristeza. Como viver sem Montessori em São Carlos? Já não era um envolvimento só das crianças, mas da família toda. Nossa comunidade era a escola e as famílias e todo o universo Montessori. A escola tinha mudado muito a nossa relação familiar, com outras pessoas, nossa maneira de estarmos no mundo… Eu já estava vendo as coisas de uma forma diferente, e naquele momento não concebia mais voltar para São Carlos e ver os meus e as outras crianças sem ter a possibilidade de uma escola como aquela. Até que voltei em outubro para o Brasil e os meninos voltaram com meu marido um mês depois.

Em São Carlos tinha uma escola Montessori que fechou este ano e uma outra creche parental Montessori, em que os dois mais velhos já não seriam atendidos pela idade. Comecei a procurar outras escolas no Brasil, pensamos até em mudar de cidade. Mas somos de São Carlos e nossa vontade era voltar para cá. Eu pensava: “São Carlos merece uma escola Montessori. É uma cidade com duas grandes universidades públicas e uma faculdade particular, mas tem poucas escolas construtivistas”. As escolas construtivistas na cidade são administradas por pessoas queridas com propostas incríveis, mas são poucas, diante do número de escolas tradicionais.

Então comecei a escrever um projeto de criação de uma escola Montessori de ensino infantil e educação fundamental em São Carlos e compartilhei com as pessoas que eu sabia que tinham estudado Montessori. Essas pessoas compartilhavam do mesmo sonho e aquilo me animou a seguir mais e mais. Fui conversando com proprietários de escolas no Brasil. Pessoas com um coração gigante e muito motivadoras, que colaboraram com muitas informações, me ajudaram muito nesse caminhar, me incentivaram e fui seguindo neste projeto.

Nesse caminhar fui encontrando pessoas que eu havia encontrado em algum momento da vida e que eu achava que poderiam estar neste ambiente. Pessoas com vontade de ver uma escola como a Bambu. Muita gente topou, muitos me ajudaram de forma voluntária no início, inclusive para preparar a documentação para licença.

O projeto foi tomando corpo, saindo do papel e se tornando real. Aí procuramos um espaço que tivesse área verde, história e que fosse próximo ao centro da cidade. Formamos um grupo de pais interessados em ter seus filhos em um ambiente como este e achamos este espaço no centro da cidade com grande área verde bem ao lado de um bosque público. Alugamos e estamos reformando o espaço, preparando-o para atender o infantil e o fundamental, crianças de 2 a 9 anos.

Estamos neste processo e o objetivo é abrir em 2022 três salas: 1 a 3 anos; 3 a 6 anos; e 6 a 9 anos. Já temos uma equipe sendo capacitada para este espaço, com formação Montessori. Vieram de vários lugares do Brasil de outros países para fazer parte desta grande família. Todos com a vontade de oferecer uma educação diferente, que permita a autoconstrução da criança, a guiando em um processo de desenvolvimento para a vida.

Estamos em preparação para abrir as portas, com uma equipe a qual todos os professores e assistentes são certificados pela Associação Montessori Internacional (AMI) ou pelo Montessori Accreditation Council for Teacher Education (MACTE). Pessoas queridas e transformadoras. A partilha já tem sido muito rica, por aqui.

Todo este processo tem me mostrado ainda mais sobre o papel do Método Montessori nesta sociedade em que vivemos, em que tudo muda muito rapidamente, em que tudo é muito perecível. O senso de comunidade que faz parte do universo Montessori, no qual as crianças são críticas e independentes. Montessori diz que para resolvermos os principais problemas da sociedade, devemos investir em uma educação de qualidade que favoreça essa autoconstrução individual, permitindo que o próprio indivíduo crie estas ferramentas de forma independente. Devemos nos desenvolver como pessoas que possam preparar o ambiente e que entendam o desenvolvimento infantil.

Durante esta pandemia, temos aprendido como é importante desenvolver e ter este espírito de comunidade. Muita gente percebeu o quanto é importante respeitar o universo e as pessoas. E na educação, vimos como é fundamental proporcionar um ambiente onde a criança possa desenvolver ferramentas para lidar com as adversidades do mundo. Vimos que foi muito difícil psicologicamente e emocionalmente passar por tudo isso. E que pessoas que estão preparadas passaram com um pouco menos de dificuldade.

É importante saber lidar com as adversidades, mas também respeitar o universo, os animais… Algumas das principais doenças do mundo estão ligadas à exploração animal pelo ser humano. Como a gente lida com eles para atender as nossas necessidades? Como esta relação tem causado um desequilíbrio na natureza?

É sobre tudo isso que venho estudando há três anos. Tenho me divertido e também trabalhado muito neste novo espaço. O Bambu Montessori é um grande projeto e uma grande família. Fico muito feliz em ver este projeto tomando corpo e com uma família crescente e amorosa. Pessoas ricas intelectualmente, de amor e de empatia. Agradeço muito por estar com essas pessoas. Me sinto rica e presenteada e, por isso, quero compartilhar com vocês.”