A psicóloga Mariana Freitas, 39 anos, morava em Malta, na Europa, quando teve o seu primeiro contato com o Método Montessori, há três anos. O encontro ocorreu durante a procura por uma escola para o filho Bryan, na época com um aninho.

Depois de frustrar-se com as escolas que ofereciam o ensino tradicional para a primeira infância, Mariana decidiu conhecer uma escola montessoriana. O aconteceu a partir daí? Confira!

“Gostei muito da escola. Só não digo que me apaixonei por que isso aconteceu depois que comecei a estudar o Método Montessori. Decidi matricular meu filho naquela escola e uns dois meses depois eu já percebia algumas pequenas mudanças no seu comportamento. Aquilo me chamou a atenção e decidi procurar saber mais sobre Montessori.

De início a intenção era apenas ser uma mãe melhor, de não estragar o belo trabalho feito pela escola. Mas foi aí que me apaixonei por Montessori e não consegui mais parar de estudar. Fui fazendo cursos livres, online, além de ler e estudar pela internet. Li muito artigos e textos em blogs. Até chegar ao International Montessori Institute, de Barcelona, onde ingressei na formação a 3 anos, já com o objetivo de abrir uma escola quando voltássemos para Macaé-RJ.

Antes disso mudamos para o Cairo, em 2019, onde ficamos até março de 2020. Mudamos para a Espanha e a pandemia estourou. Então voltamos para o Brasil e pude colocar o projeto em prática. Foi um ano difícil, com a pandemia, as eleições. Mas já conseguimos a maioria das autorizações necessárias e acreditamos que a inauguração do nosso Jardim dos Descobridores será ainda este ano.

Descobrir o método Montessori mudou a minha experiência de maternidade. Sempre digo que mudou a mãe que meu filho ia ter e mudou o filho que eu vou entregar para o mundo. Porque Montessori é muito mais do que um método! É uma compreensão do desenvolvimento infantil a partir do que é natural e universal, tanto do ponto de vista biológico quanto físico, cognitivo, social e psíquico.

E compreender isso muda tudo, não é? Muda nossa relação com a criança, nos coloca em uma posição mais respeitosa e coerente. E o mais importante: permite que nossos filhos cresçam em um ambiente seguro e inspirador, tanto do ponto de vista físico quanto psíquico.Isto faz com que tenhamos uma criança mais independente, empática, colaborativa, segura nas relações sociais e feliz! A liberdade para fazer o que precisa traz imensa felicidade à criança.

Mas há muitos desafios. E o principal deles é a mudança que Montessori exige de nós, adultos. Mais do que estudar e conhecer o método, é preciso estar aberto a se colocar na relação com a criança a partir de uma posição que nos retira do centro. É difícil se reconhecer em um papel autoritário e opressor, e encontrar caminhos para transformar-se. É difícil ter um posicionamento firme e gentil! É difícil não interromper a criança, não proibir ou ajudar desnecessariamente, para mencionar apenas os mais comuns obstáculos ao desenvolvimento apontados por Maria Montessori.

Em tempos de pandemia, fomos forçados ao isolamento social e vivemos uma atmosfera de estresse e medo coletivos sem precedentes em nossa geração. Muitas famílias perderam (ou estão perdendo) pessoas muito importantes e amadas. Algumas perderam várias. Proteger as crianças de tudo isso é quase impossível.  E para além disso, todo este tempo sem escola tem consequências que ainda não conseguimos mensurar.

Neste contexto, Montessori propõe uma educação de ajuda à vida, no sentido de ajudarmos a vida a se desenvolver seguindo o seu curso natural, respeitando as necessidades de cada etapa do desenvolvimento. Então, temos que ter em mente que uma criança que cresce em um ambiente preparado para ela, com um adulto preparado, é uma criança equilibrada, pois é atendida em suas necessidades.

A aplicação do método permite que as crianças sejam mais independentes e autônomas. E isto ajuda a dinâmica familiar a ficar mais leve. Elas são mais participativas na rotina da casa e solicitam menos a intervenção do adulto.

Em geral, essas crianças também estão mais acostumadas a realizar tarefas individualmente, e isto reflete no modo de brincar. Conseguem se concentrar e se divertir sem demandar a presença de outra criança ou adulto o tempo todo.

Uma criança que consegue se concentrar, é extremamente feliz, dizia Maria Montessori. E uma criança feliz, muda tudo ao seu redor!

Tive a terrível experiência de perder meu pai para a COVID-19. Posso dizer que meu filho era um oásis de alegria e equilíbrio durante a fase mais pesada do luto. Ainda é!

A falta de conhecimento do método ainda faz com que as pessoas desconheçam a possibilidade de fazer Montessori com o que temos em casa. Quando na verdade, as atividades de vida prática e muitas atividades sensoriais podem ser feitas sem a compra de qualquer material Montessori.

A aplicação do método Montessori em casa ensina a criança a fazer escolhas, a desenvolver uma obediência consciente e crítica e uma relação respeitosa com todos ao seu redor.

Na escola, podemos falar da diversidade que as salas montessorianas trazem para a vida das crianças, devido ao agrupamento de idades mistas. Desenvolvemos assim uma comunidade colaborativa, empática, pacífica. Tudo de forma muito natural. A criança está construindo a si mesma, disse Montessori.

Eu sei, então, que meu filho, e todas as crianças que crescem neste ambiente, estão construindo adultos capazes de fazer boas escolhas, de realizar análises críticas e de se posicionar, de promoverem um ambiente de paz onde quer que estejam, porque não estão sendo educados para a competição. Estes serão os adultos capazes de criar um mundo novo!

Por tudo isso que falei até aqui, ficou muito claro para mim que Montessori não podia ficar somente dentro da minha casa. Precisava chegar a outras famílias.

É claro que há muitas pessoas, no Brasil e no mundo, há muitos anos se dedicando diariamente para que o método Montessori se espalhe. E é claro, também, que sonho (sonhamos) com o dia em que chegará a todas as famílias! Mas o que posso fazer é a minha parte.

Então surgiu o projeto da escola, que se propõe a trazer para a minha cidade e para as famílias que vivem aqui, a possibilidade de vivenciar o método.

O nome da escola é Jardim dos Descobridores, por causa desta citação de Maria Montessori em O Segredo da Infância: “A criança é um descobridor: um homem que nasce de uma nebulosa, como um ser indefinido e maravilhoso, que busca sua própria forma.”

Mas eu digo que a escola nem abriu e já ficou pequena para Montessori também. Por isso criei o IG @jardimdosdescobridores, para que possamos alcançar as famílias que vivem em locais que não têm uma escola Montessori como opção, ou que não podem colocar os seus filhos nestas escolas por alguma razão. A ideia é levar Montessori para pais e educadores e quem sabe inspirar outras pessoas a seguirem o mesmo caminho.”

 

Paulo Prudente, reportagem e texto.