Em 2016 a fonoaudióloga Adriana Garcia percebeu em si o desejo de atuar dentro do ambiente escolar. Mas não foi a o modelo tradicional de educação que a fez pensar em deixar a fonoaudiologia um pouco de lado. Ela também não sabia que seria o Método Montessori que iria motivá-la a criar um projeto social.

Hoje, Adriana, de 48 anos, está perto de começar de fato as ações do Projeto Montessori, em que pretende apresentar o método a crianças em vulnerabilidade social em uma sala na Tijuca, zona norte do Rio. Confira!

 

“Em 2016 comecei uma busca para trocar minha área de atuação profissional. Sou fonoaudióloga, mas aos poucos fui percebendo em mim um interesse pela área educacional. Então tomei a decisão de tentar encontrar um caminho na educação. Mesmo como fonoaudióloga, mas dentro da escola. Era o que eu queria! É o universo escolar que me encanta e me deixa feliz.

Nesse mesmo ano comecei a pesquisar e participar de seminários e encontros de educação. Mas a educação tradicional, talvez por conta da minha formação em fonoaudiologia, sempre me pareceu ineficiente e sem sentido em vários aspectos. Quem sabe por que, na minha percepção, algumas dificuldades de aprendizagem sejam geradas pelo próprio ambiente escolar. Não por características da criança ou do professor, mas por causa do método tradicional de ensino, que tira da criança o seu interesse de aprender e de ser curiosa. Ele vai, pouco a pouco, aniquilando isso. Eu não conseguia me enxergar dentro desse modelo.

Até que um dia assisti a um filme sobre Maria Montessori. Sempre tive o hábito de assistir documentários. Não sabia exatamente o que era o Montessori, mas já havia ouvido falar de escola montessoriana, da cama montessoriana… Fiquei interessada pelo filme quando li a sinopse e ele foi impactante para mim.

O que vi me pareceu algo muito possível de ser implementado. Fez muito sentido para mim me deparar com aquela abordagem de educação exposta no filme. A questão de basear o método no desenvolvimento da criança. Tudo no Montessori é pautado nas etapas do desenvolvimento infantil. Além disso, tem a questão do afeto, tão presente no método. A valorização da criança, da sua individualidade e o respeito por ela! Tudo isso me encantou e eu comecei a pensar ‘gente, esse é o caminho!’

Aí começou minha busca por Montessori e foi quando descobri Gabriel Salomão nas redes sociais. Mandei email e ele me respondeu muito carinhosamente. Aprendi muito e aprendo até hoje com ele, uma pessoa que admiro muito. Nessa minha pesquisa descobri os sites da OMB e da ABEM, que estava com inscrições abertas para uma pós-graduação. Me inscrevi e foi incrível. Iniciar a pós foi uma experiência transformadora na minha vida. Por que o primeiro passo é a transformação do adulto e eu iniciei este processo na pós-graduação.

Aí algo muito interessante aconteceu: tive contato com pessoas incríveis! Professoras e diretoras de escolas montessorianas. Pessoas com décadas de experiência! Percebi que o ensino montessoriano ainda é muito elitizado no Brasil. O método não, ele é para todas as crianças. Mas o acesso ainda é muito elitizado. Começou a despertar em mim o interesse de fazer algo em relação a isso. Então comecei a conversar com minhas colegas da pós, as professoras e especialmente com a Paula Lobato, com quem falei sobre o desejo de levar Montessori para crianças em vulnerabilidade. E ela foi uma grande apoiadora da ideia.

Em 2017 vivi uma experiência marcante em um congresso aqui no Rio organizado pela OMB. Conheci tanta gente incrível, entre elas o Gabriel Salomão, que não conhecia pessoalmente. Falei com ele, agradeci… Por que ele foi a primeira pessoa que me deu uma orientação, sem me conhecer e sendo muito ocupado com tantas coisas. Tive a alegria de agradecer pessoalmente. Contei um pouquinho da minha história e ele disse que precisava me apresentar a uma pessoa, uma professora da Escola Casulo… Era uma pessoa incrível, que perguntou em que área eu atuava. Disse que gostaria de me envolver com pessoas dispostas a levar Montessori a famílias de baixa renda. Naquele tempo eu já procurava algum projeto que tivesse esta proposta para eu me engajar. Mas não encontrei.

Conversando com ela eu ouvi: “Começa você então!”. Eu disse a ela que estava começando em Montessori, que não tinha espaço, não tinha dinheiro para bancar um projeto, não tinha experiência nem contatos. Ela falou para eu começar com o que eu tinha. E isso ficou marcado em mim. “Comece com o que você tem!” Pensei muito sobre isso! Sou cristã e orei muito. Na minha vida tudo o que eu faço é buscando a orientação e a presença de Deus.

Então, no final de 2017 decidi falar com um amigo que faz parte do HOPE, uma ONG internacional que presta assistência a comunidades em situação de risco com projetos incríveis em várias partes do mundo. Atuam muito em situações de calamidade e desastres naturais. Eles atuam no Rio e falei com ele sobre a ideia de iniciar algo, um projeto para levar Montessori a crianças em vulnerabilidade social. Ele ficou muito animado com a ideia e me convidou para uma reunião com o grupo que dirige o HOPE. Eles não conheciam nada do método e eu preparei uma breve apresentação. Todos ficaram tocados e com o desejo de me apoiar. Ali nasceu o sonho do Projeto Montessori.

o hopeMesmo assim eu ainda não tinha nada e então resolvi fazer a Feira do Bem. Convidei vários amigos e amigas que vendem coisas, artesanato, roupas, cosméticos… Eles reverteriam 20% das vendas para o projeto e eu organizaria tudo. Assim aconteceu a I Feira do Bem. Foi Muito legal, a igreja que frequento cedeu o espaço e lá já organizei três edições da feira.

Na mesma época apresentei à igreja um projeto para usar uma sala que servia de depósito e eles me cederam o espaço. Com os recursos da feira e com algumas doações, incluindo uma doação do HOPE Internacional, começamos a obra na sala e ela está praticamente pronta. Ainda não tenho todo o material, por que não temos um apoiador ou mantenedor. Espero que quando começarmos as atividades de fato, consigamos atrair pessoas para ajudar financeiramente. Assim vamos servir a estas crianças cada vez mais.

A pandemia nos pegou de surpresa. A todos, em maior ou menor grau! Tivemos projetos adiados em 2020. Lembro que na primeira semana de março de 2020, quando a situação estava ficando complicada na Itália, nós tivemos nossa última reunião.  Estávamos traçando estratégias para alcançar as crianças, decidindo para quem íamos oferecer as vagas e de que forma faríamos isso. Tudo ficou parado! A obra continuou devagar, mas continuou.

Nosso próximo passo, finalizando a sala e com um pouco mais de segurança, é captar as crianças. Já temos algumas ideias, mas o objetivo é oferecer o maior número de vagas para crianças vulneráveis socialmente”.

Contatos: adriana_cgarcia@yahoo.com e @adriana.projetomontessori

 

Paulo Prudente, Reportagem e texto.