Marcia Righetti, 73 anos, é educadora desde 1965, especializou-se em educação Montessori na ABEM-RJ, no Seton Montessori Institute (Chicago-EUA) e no CEM Montessori, no Chile. É uma estudiosa da obra de Maria Montessori e também atua como coach em formação Montessori. Em 1978, Marcia fundou a Aldeia Montessori, no Rio de Janeiro. Hoje são três unidades que atendem a crianças entre quatro meses e 11 anos, do berçário ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Em 2007, Marcia iniciou nova trajetória, como formadora Montessori no Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro, recebendo aprendizes de todo o Brasil.

O primeiro contato de Marcia com a filosofia de Maria Montessori aconteceu quando seu filho mais velho chegou à idade pré-escolar, e depois o mais novo.

“Eu os matriculei numa pré-escola Montessori. Naquela época, eu era professora na Educação Básica da rede pública de ensino e fui, aos poucos, ficando mais familiarizada com a filosofia de Maria Montessori, pioneira há mais de cem anos na Itália, e gostei. Gostei tanto que foi aí que comecei a estudar sobre o tema. Estávamos em 1975 e o primeiro curso que fiz, na mesma escola em que meus filhos estavam matriculados, fez com que buscasse outros e outros. E continuo encantada, estudando Montessori para sempre!”, conta a educadora.

Foram três anos de estudos e pesquisas até que, em 1978, nascesse a Aldeia Montessori, que Marcia dirige desde então. Mas ela confessa que o aprendizado jamais termina e que o dia-a-dia com as crianças é um mundo de descobertas. E é isso o que lhe atrai neste trabalho.

“O contato cotidiano com as crianças, poder observar o processo de desenvolvimento de cada uma e as transformações pelas quais passam. Depois acompanhar o rumo que tomam em suas vidas e que tipo de adulto constroem.  Todos se beneficiam da prática montessoriana, adultos e crianças, pois como a Mestra já afirmava ‘para educar é preciso educar-se!”.

O que viveu e aprendeu – e segue aprendendo – nestas quatro décadas, Marcia passa adiante, formando professores de todo o Brasil.

“Hoje, como também me dedico à formação de professores montessorianos, posso acompanhar também o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um, na medida do possível, e avaliar como o que compartilhamos contribui para mudanças, transformações e novas conquistas.”

Transformações e conquistas que transcendem o ambiente escolar. Entre estas transformações, Marcia destaca o desenvolvimento pessoal do professor.

“Se isso não acontece, quando o professor escolhe trabalhar numa Escola Montessori, ele não contribui com o necessário para o desenvolvimento da criança. É por isso que transcende a escola, é a própria vida que acontece! Numa classe Montessori não dá para representar um papel… O professor tem que ser verdadeiro, por que só desta forma ajuda na formação do caráter de cada um dos seres humanos jovens que passam por suas mãos. Só assim ajuda na construção de boas pessoas, íntegras, éticas e proativas”.

A educadora diz que é um trabalho e uma rotina que dão propósito à sua vida. E que o seu foco está na formação do caráter e, consequentemente, de boas pessoas.

“Se temos boas pessoas podemos mudar o mundo. E a escola tem grande participação nesta construção. Faço a minha parte e sou feliz na minha Aldeia Montessori, quando encontro outros tantos educadores que pensam e agem da mesma forma. Como diz Raul Seixas, ‘Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”.

Construir uma realidade melhor a partir dos sonhos é algo que está presente na vida de Marcia Righetti e, certamente, na de outras pessoas envolvidas com a filosofia Montessori. E para aqueles que acham o método uma utopia, diante das mazelas do mundo atual, a educadora tem um recado.

“Pra concretizar qualquer coisa na vida, primeiro a gente sonha, depois com os pés no chão começa a construir! Eu digo que tenho ‘um mantra’, uma frase que recebi num cartão, com uma linda aquarela azul e rosa e que dizia assim: ‘A vida se faz luz quando não se apagam os sonhos’. O mundo não vai engolir estas crianças. Elas se destacam e fazem história!”.

A educadora lembra que não se pode ter pressa para transformar os sonhos em realidade e que o tempo é algo relativo. Para Marcia, a filosofia Montessori está apenas começando a mudar a educação. Mas os resultados já estão aí.

“Nós temos pressa de que tudo o que vai mal hoje se resolva numa década. Mas este é um tempo muito pequeno para a história da humanidade, as mudanças vão acontecendo. Desde 1907 vem acontecendo a mudança na educação. Ela começou lá na primeira Casa das Crianças, fundada por Maria Montessori, no Bairro de San Lorenzo, em Roma. Isto já tem mais de um século, mas olhe os resultados. E isso é apenas o começo!”.

Enquanto isso, Marcia Righetti segue olhando as crianças nos olhos, ‘na mesma altura que elas’, e tratando-as com a humildades de quem, um dia, também já foi criança.

“É preciso reconhecer o poder da criança e curvar-se diante de sua grandeza! Estar ali para servir à criança e dar-lhe a ajuda necessária para que construa o homem capaz de agir e promover as mudanças que vão contribuir para que vivamos em equilíbrio conosco mesmo, com os outros e com a nossa casa neste Universo que nos acolhe, a Terra”.

Reportagem e texto de Paulo Prudente, Jornalista.