A sensibilidade da criança muito pequena possui, antes que se possa falar em meios de expressão, uma estrutura psíquica primitiva, que pode permanecer oculta. (MONTESSORI, 2019, p. 53).

Em suas pesquisas e observações, Maria Montessori ([1949?]; 2019) relata a descoberta de períodos sensíveis ao longo do desenvolvimento infantil, sob a ótica educacional. Mas, o que são os referidos períodos? Montessori (2019, p. 54) nos esclarece que:

Trata-se de sensibilidades especiais, que se encontram nos seres em evolução, ou seja, nos estados infantis, as quais são passageiras e limitam-se à aquisição de uma determinada característica. Uma vez desenvolvida essa característica, a sensibilidade acaba, e assim cada característica se estabelece com ajuda de um impulso, de uma possibilidade passageira. Portanto o crescimento não é um processo vago, uma fatalidade hereditária inata nos seres vivos, mas um trabalho guiado minuciosamente por instintos periódicos, ou passageiros, que dão guiamento porque impelem a uma atividade determinada, a qual difere por vezes de maneira evidente da atividade do indivíduo no estado adulto.

Por esse motivo, a presença de um adulto preparado é imprescindível, uma vez que a “permissão” para sanar suas necessidades muitas vezes vêm do adulto. A atenção da criança se volta para alguns aspectos de maneira passageira, Montessori ([1949?]; 2019) estima algumas das faixas etárias em que cada aspecto pode chamar atenção, como bem expresso pelo esquema abaixo. Os períodos sensíveis são como um despertar, nas palavras da autora seriam “um farol aceso que ilumina interiormente” (MONTESSORI, 2019, p. 56), reluzindo intensamente até que se chegue a fadiga, o que demonstra muitas vezes sua conquista, visto que o que não impõe desafio à criança não lhe chama tanto atenção.

Por Gabriel Salomão (2019)

Muitos dos materiais de desenvolvimento e outros trabalhos criados por Maria Montessori instigam os períodos sensíveis, visto que dão subsídios à inquietação interior, entre outras coisas, a conquista autônoma. E a conquista autônoma de aspectos do seu próprio desenvolvimento trazem sentimentos de autoestima e de poder, pois “cada esforço é um poder” (MONTESSORI, 2019, p. 56). Ao adulto cabe apresentar possibilidades e assumir o papel de observador, pois interromper a atividade infantil seria como a própria palavra diz “inter” “romper” os sentimentos de autoestima e de poder que os períodos sensíveis proporcionam. “A criança é dirigida por um poder misterioso, maravilhosamente grande, que a pouco e pouco encarna; torna-se assim homem e faz-se homem por meio das suas mãos, por meio da sua experiência” (MONTESSORI, [1949?], p. 28). 

Nessa perspectiva também, indica-se a leitura do nosso post “A educação sensorial sob a visão da neurociência”, como modo de complementação ao estudo acima.

Referências bibliográficas:

MONTESSORI, Maria. Mente absorvente. Tradução de Pedro da Silveira. Rio de Janeiro: Portugália, [1949?].

MONTESSORI, Maria. O segredo da infância. Tradução de Jefferson Bombachim. Campinas: Kírion, 2019.

Referência das imagens:

SALOMÃO, Gabriel. 2019. Lar Montessori: Períodos sensíveis. Disponível em: https://larmontessori.com/2019/03/23/periodos-sensiveis-montessori/

FREEPIK. Disponível em: https://freepik.com/