Maria Montessori é comprovadamente reconhecida como uma mulher a frente do seu tempo. Apenas nas últimas décadas a neurociência apareceu e começou a provar o que ela disse há mais de cem anos. Além disso, vale lembrar que ela era médica psiquiatra antes de tornar-se pedagoga, então imagine a perspectiva que podemos ter do desenvolvimento infantil através de um olhar tão completo!
Dito isso, vamos tratar de uma das principais e mais únicas características do método Montessori: a educação sensorial. Mas o que é e porque isso é tão importante?
O sistema sensorial é um conjunto de células e neurônios do sistema nervoso central responsável por receber impressões e estímulos, processar e retornar conclusões. Ele constitui a base da pirâmide que constrói o nosso intelecto. Não são poucas as referências que afirmam que toda a inteligência passa pelos sentidos. “A mão é instrumento da inteligência” – MM.
E ao falarmos de educação sensorial é comum pensarmos diretamente nos nossos cinco sentidos – visão, olfato, audição, tato, paladar – mas em seu livro Mente Absorvente, página 166, Montessori já precedia a neurociência ao introduzir outros sentidos menos populares como os proporcionados pelo sistema vestibular e o sistema proprioceptivo, responsáveis, respectivamente, pela mão/equilíbrio e pela direção e nível do movimento, funcionando como uma bússola para o nosso corpo.
O primeiro sentido a ser trabalhado desde bebês é o da visão, e é importante observar o funcionamento do cérebro nessa idade, pois em razão do campo binocular da visão eles “só enxergam” em 3D. Isso quer dizer que: o olho direito vê uma coisa e o esquerdo vê outra, a interseção entre as duas imagens é o que vai de fato “ser vista” pelo cérebro. O quadrado só existe por conta da posição do cubo. É assim que o cérebro processa, do tridimensional para o plano.
Depois temos o sentido tátil, este é formado pela mão e pela pele resultando no que é chamado de somestesia. Do latim soma, que quer dizer corpo e aesthesia, que significa sensibilidade, somestesia é a capacidade que seres humanos e animais têm de receber informações sobre as diferentes partes do seu corpo, dentre elas: o reconhecimento da localização espacial do corpo, a termossensibilidade e a dor.
Em seguida temos a audição. O som nada mais é que movimento, ao captar as vibrações o cérebro faz o processamento auditivo, processo esse que pode ser percebido em todos os sentidos.
A representatividade gustativa está diretamente relacionada com o olfato. Todos os sentidos passam pelo Tálamo, que funciona como o motoboy do cérebro, ele recebe as impressões dos sentidos e encaminha para os córtex responsáveis pelo processamento de cada um. Exceto o olfato, ele vai diretamente para o seu próprio córtex.
Faça o teste: coloque um pouco de canela no dorso da sua mão e prove-a com o nariz tampado. Você vai perceber que não tem gosto de nada e na verdade associamos diretamente o gosto ao cheiro.
O aprendizado acadêmico, atividades da vida prática e todo o desenvolvimento cognitivo não serão possíveis sem uma educação sensorial de qualidade. E durante a primeira infância as crianças passam pelo período sensível do desenvolvimento dos sentidos e esses períodos são quando as crianças conquistam naturalmente as habilidades. Se perdermos essas janelas de aprendizagem prejudicaremos o desenvolvimento da criança.
Basta lembrar de quantas vezes você já não ouviu alguém dizer que quanto mais cedo colocar a criança para estudar inglês, melhor. Isso porque elas estão do período sensível da linguagem, o que torna a conquista da língua (seja ela qual for) muito mais natural.
Assim, nossa mestra sabiamente inicia a educação das crianças pelos sentidos. Toda inteligência passa pelos sentidos. Em resumo, é assim que as coisas funcionam:
Durante o processamento das informações recebidas dos sentidos acontece o processo de mielinização, que é a fortificação das conexões entre os neurônios e esse processamento é o responsável por afixar as impressões em nosso cérebro. É por isso que você lembra da sua avó ao sentir cheiro de bolo, porque tem essa marca no seu cérebro!
Tente lembrar de algo que você tenha aprendido sem que tenha passado por nenhum dos sentidos. Dificilmente você irá encontrar.
Nossa, aposto que você não tinha parado para pensar em todos esses processos e nomes complicados acontecendo dentro da cabecinha do seu bebê, né?! Por esse motivo é importante conhecermos (ao menos um pouquinho) sobre isso para que possamos entender melhor o que se passa com nossas crianças e compreendê-las, ajudando-as assim a trilhar esse caminho tão lindo que é a construção do ser humano.
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